Encontro dos BRICS é apenas encenação para fotos, diz UBS

BRICS não é uma força econômica coerente, mas sim uma oportunidade para fotos, fazendo de conta que é uma reunião séria de adultos, diz economista-chefe
Last Updated: julho 14, 2025By Tags: , , ,
BRICS Brasil 2025
BRICS Brasil 2025

(Imagem: Ueslei Marcelino/BRICS Brasil)

À medida que os países membros dos BRICS se reúnem para mais uma cúpula internacional, os mercados financeiros reagem com indiferença. Para o economista-chefe do UBS, Paul Donovan, o encontro do bloco é mais simbólico do que substancial — uma encenação diplomática que serve mais para fotos do que para decisões econômicas concretas.

“BRICS não é uma força econômica coerente, mas sim uma oportunidade para fotos, fazendo de conta que é uma reunião séria de adultos”, escreveu Donovan em relatório publicado nesta segunda-feira (7) e obtido pelo Money Calls.

A avaliação crítica do UBS vem em meio a novas ameaças comerciais do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Em publicação recente nas redes sociais, Trump afirmou que importações oriundas de países “alinhados com as políticas dos BRICS” estarão sujeitas a uma tarifa adicional de 10%. No entanto, segundo Donovan, essa ameaça carece de definição concreta: “Não está claro o que significa esse ‘alinhamento’. BRICS não é uma entidade com diretrizes econômicas unificadas”.

Mais espetáculo do que substância

Formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — e recentemente expandido para incluir novos países — o grupo BRICS tem buscado se afirmar como um contrapeso geopolítico às potências ocidentais. No entanto, na visão do UBS, essas reuniões são amplamente performáticas e têm pouca influência real sobre a economia global ou os mercados.

“Depois de uma reação inicial contida, os investidores provavelmente não darão muita atenção a esse assunto”, avalia Donovan.

A crítica foca na ausência de coesão econômica entre os membros do grupo. Com modelos de desenvolvimento distintos, interesses estratégicos diversos e relações comerciais frequentemente conflitantes entre si, os BRICS carecem de uma agenda econômica comum que vá além das declarações conjuntas e das fotos protocolares.

Tarifa adiada, mas ameaça permanece

Ao mesmo tempo, os mercados monitoram a mais recente decisão de Trump de adiar novas tarifas comerciais. Estava previsto que, a partir desta quarta-feira, novos impostos incidiriam sobre consumidores norte-americanos. No entanto, segundo o UBS, essas tarifas foram postergadas para 1º de agosto. “Isso significa que, considerando algum estoque acumulado antes do Natal, os consumidores talvez não sintam o pico inflacionário dessas taxas até janeiro do ano que vem — assumindo que Trump não recue novamente”, analisa Donovan.

A estratégia tarifária do presidente norte-americano vem sendo aplicada com tom político e imprevisível, o que amplia a incerteza nos mercados. Mesmo assim, Donovan observa que um ponto positivo até agora é que a maior parte dessas tarifas está restrita aos Estados Unidos. “O resto do mundo está comercializando normalmente”, afirmou.

Tensões além dos BRICS

Ainda assim, o risco de uma escalada global no protecionismo persiste. A China impôs, na última sexta-feira, tarifas antidumping sobre as importações de conhaque da União Europeia, movimento interpretado como retaliação às tensões comerciais. No dia seguinte, o ministro das Finanças da França sugeriu que o país poderia adotar tarifas de proteção contra importações chinesas.

“Qualquer escalada seria preocupante”, alerta Donovan, ressaltando que a mensuração dos efeitos dessas medidas é dificultada por artifícios como o redirecionamento de exportações chinesas para os EUA via União Europeia — uma tentativa de contornar as tarifas americanas e manter os preços acessíveis ao consumidor final.

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