Você pagará impostos se perder no Tigrinho? Nos EUA será assim

Nova legislação pode minar a rentabilidade de apostadores profissionais, afastar os amadores e desestabilizar a estrutura legal de apostas
Last Updated: julho 8, 2025By Tags: ,
Apostas esportivas Bets

(Imagem: Prome AI/ Money Calls)

Uma mudança silenciosa, mas potencialmente devastadora para a indústria de apostas esportivas dos Estados Unidos, foi aprovada no Congresso americano e sancionada na última sexta-feira pelo presidente Donald Trump. A nova legislação, batizada de “One Big Beautiful Bill Act”, contém um trecho específico — a Seção 70111 — que pode minar a rentabilidade de apostadores profissionais, afastar os amadores e desestabilizar a estrutura legal de apostas construída ao longo dos últimos anos.

Segundo análise publicada pela newsletter Huddle Up, a principal alteração é a limitação na dedução de perdas com apostas, que passará a ser de 90% a partir do próximo ano. Atualmente, o sistema tributário dos EUA permite que os apostadores deduzam 100% de suas perdas contra seus ganhos, o que evita a cobrança de impostos quando não há lucro real. Com a nova regra, isso muda drasticamente.

“Um apostador que ganha US$ 100 mil e perde os mesmos US$ 100 mil hoje paga zero de imposto. Com a nova regra, ele será tributado como se tivesse lucrado US$ 10 mil”, explica a Huddle Up. Isso resultaria, por exemplo, em uma cobrança de US$ 2.400 em imposto federal a uma alíquota de 24%, mesmo sem lucro efetivo.

No Brasil, o prêmio recebido acima da faixa de isenção de R$ 2.112 sofre uma retenção de 30% de Imposto de Renda na fonte.

Apostadores serão taxados pelo volume, não pelo lucro

O impacto mais preocupante, segundo a análise, é que o sistema passará a tributar a atividade bruta, e não a renda líquida. Na prática, mesmo quem não obteve nenhum ganho poderá ter que pagar impostos, desde que tenha gerado grande movimentação ao longo do ano. Isso transforma completamente o ambiente de apostas nos EUA, que desde a decisão da Suprema Corte de 2018 tem visto uma crescente legalização e expansão dos mercados estaduais.

“Agora, os apostadores serão efetivamente taxados com base no volume de atividade, e não no lucro real”, ressalta o relatório da Huddle Up. Isso compromete especialmente os apostadores profissionais, cujas margens de lucro já são muito apertadas. A medida pode inviabilizar sua atividade legalmente, empurrando muitos deles para mercados offshore e não regulamentados — algo que as autoridades federais vinham tentando evitar.

Reação da indústria: silêncio ou alívio?

Embora a medida seja amplamente criticada pelos especialistas em jogos e tributos, parte do setor parece reagir com apatia — ou até entusiasmo velado. “Algumas casas de apostas parecem estar aplaudindo discretamente a mudança”, afirma a Huddle Up, sugerindo que, ao reduzir a competição dos profissionais e limitar os apostadores de alto volume, as operadoras poderiam aumentar suas margens oferecendo odds menos vantajosas ou promovendo apostas com mais risco, como same-game parlays.

Outro possível efeito colateral será a redução do número de promoções, concursos e jackpots de alto valor. Com menos jogadores de grande volume e mais restrições, as plataformas podem passar a focar no público mais casual, com limites menores e jogos mais lucrativos para a casa.

Impacto fiscal e nos estados

Desde 2018, mais de 30 estados americanos aprovaram a legalização das apostas esportivas como forma de aumentar a arrecadação fiscal. A nova regra federal, no entanto, pode forçar esses estados a repensarem suas estratégias. Com a queda no volume de apostas e a possível migração para mercados paralelos, as receitas estaduais podem despencar, afetando orçamentos que já contam com esse fluxo de recursos.

“Os estados que mudaram suas políticas para aumentar a arrecadação agora terão que encontrar novas formas de gerar atividade econômica”, alerta o relatório.

Uma mudança pouco discutida, mas profunda

Apesar da dimensão da alteração, o tema passou despercebido da maioria dos debates públicos. A Seção 70111 foi discretamente inserida em um pacote legislativo de 940 páginas, sancionado sem grande alarde por Trump. Para os analistas da Huddle Up, o impacto será sentido de forma ampla, profunda e contínua.

“Esta é uma mudança monumental sobre a qual quase ninguém está falando”, conclui a análise.

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