Relatório de Emprego de junho: Aqui está o que você não viu
Segundo o UBS, detalhes do levantamento revelam preocupações sobre uma possível deterioração da economia norte-americana

(Leonardo AI/ Money Calls)
O relatório de empregos dos Estados Unidos referente a junho apresentou números robustos na superfície, afastando, por enquanto, as expectativas de um corte imediato na taxa de juros do Federal Reserve (Fed). No entanto, os detalhes do levantamento revelam preocupações sobre uma possível deterioração da economia norte-americana, segundo análise do economista-chefe do UBS, Paul Donovan, obtida pelo Money Calls.
A criação de vagas foi “muito focada em setores específicos”, apontou Donovan, indicando que a geração de empregos não foi distribuída de forma ampla.
“Isso sugere que parte da economia dos EUA já pode estar sentindo os efeitos de uma desaceleração”, avaliou. Embora o dado geral tenha sido positivo, a fragilidade na diversificação das contratações pode sinalizar desafios futuros.
Impacto defasado das tarifas: inflação à vista
Dados de maio mostraram que a tarifa efetiva sobre importações ficou em 8,7%, mas esse valor representa apenas cerca de 60% do que deve ser alcançado, já que muitos produtos — especialmente os transportados por navios — ainda não foram taxados. “As importações de junho terão que pagar”, destacou Donovan.
O economista explica que o efeito escalonado das tarifas impostas em abril começará a pressionar os preços ao consumidor a partir de julho, mas o impacto total só deve ser sentido em setembro. “O dano completo provavelmente não ocorrerá antes de setembro”, afirmou.
Para o economista sênior do Inter, André Valério, é essa incerteza que manterá o Fed paralisado na próxima reunião.
“Os dados antecedentes do mercado de trabalho sugerem que haverá um impacto negativo tardio no emprego e esperamos que o cenário se torne mais claro a tempo da reunião de setembro. Se de fato houver tal impacto sobre o emprego, esperamos que o Fed corte nas três reuniões restantes do ano, a partir de setembro”.
Segundo ele, contudo, se não houver impacto nem no emprego, nem na inflação, o Fed deve cortar em setembro de toda forma, possivelmente num padrão de corta e espera, pulando a reunião de novembro e voltando a cortar em dezembro, mantendo-se o cenário de não impacto das tarifas. O cenário base do Inter é de 3 cortes até o fim do ano, com a taxa de juros encerrando 2025 no intervalo de 3,50%-3,75%.
O presidente dos EUA, Donald Trump, sugeriu que uma nova leva de tarifas sobre importações pode variar de 10% a 70%, com vigência a partir de 1º de agosto. Donovan lembra que, embora o governo afirme que a arrecadação virá do exterior, “os pagamentos desses impostos, na verdade, saem das contas de empresas e consumidores norte-americanos para o Tesouro dos EUA”.
Investidores, no entanto, acreditam que, se tarifas extremas (como as de 70%) forem anunciadas, Trump possa recuar, mitigando os efeitos de uma guerra comercial mais agressiva.
Resistência global
Apesar das turbulências, dados recentes do setor manufatureiro de França, Espanha e Alemanha mostram que o comércio internacional segue funcionando.
“Em meio a todo o ruído, é bom lembrar que o resto do mundo continua negociando entre si de forma mais ou menos civilizada, reduzindo os danos econômicos”, ponderou Donovan.
Como veio o relatório de emprego de junho?
O relatório de emprego dos Estados Unidos referente a junho de 2025, divulgado pelo Bureau of Labor Statistics (BLS), revelou a criação de 147 mil empregos fora do setor agrícola (nonfarm payroll), número alinhado à média dos últimos 12 meses. A taxa de desemprego manteve-se praticamente estável, em 4,1%, com cerca de 7 milhões de pessoas desempregadas. Apesar da estabilidade geral, o relatório mostra nuances importantes sobre a dinâmica do mercado de trabalho americano.
Entre os principais grupos demográficos, a taxa de desemprego para pessoas negras aumentou para 6,8%, enquanto houve queda para mulheres adultas (3,6%) e brancos (3,6%). As taxas para homens adultos (3,9%), adolescentes (14,4%), asiáticos (3,5%) e hispânicos (4,8%) pouco mudaram.
O número de desempregados de longo prazo (mais de 27 semanas) cresceu em 190 mil, atingindo 1,6 milhão de pessoas, representando 23,3% do total de desempregados. A taxa de participação na força de trabalho permaneceu em 62,3% e a proporção de pessoas empregadas em relação à população total ficou em 59,7%. Cerca de 4,5 milhões de pessoas trabalharam em tempo parcial por motivos econômicos, sem variação significativa em relação ao mês anterior.
O relatório também destacou que 6 milhões de pessoas não faziam parte da força de trabalho, mas demonstraram desejo de trabalhar. Entre elas, o número de trabalhadores marginalmente ligados ao mercado aumentou em 234 mil, somando 1,8 milhão. Já o total de trabalhadores desalentados – que desistiram de procurar emprego por acreditar que não há vagas disponíveis – subiu em 256 mil, alcançando 637 mil.
Na divisão por setores, os maiores ganhos ocorreram no setor público e na saúde. O governo adicionou 73 mil vagas, com destaque para a educação estadual (+40 mil) e local (+23 mil). Por outro lado, o governo federal continuou a cortar postos (-7 mil). O setor de saúde cresceu em 39 mil empregos, com aumento em hospitais (+16 mil) e em instalações de cuidados residenciais (+14 mil). O setor de assistência social também cresceu (+19 mil), puxado pelos serviços individuais e familiares.
Os salários médios por hora aumentaram 0,2% em junho, chegando a US$ 36,30. Nos últimos 12 meses, o avanço foi de 3,7%. A média da jornada semanal caiu para 34,2 horas. Reajustes para meses anteriores elevaram o número total de empregos em abril e maio em 16 mil.

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