O ChatGPT irá dirigir o seu carro em breve, diz BofA
Avanços em inteligência artificial, redução nos custos de sensores e uma corrida tecnológica entre EUA e China impulsionam a transformação do setor automotivo global

(Prome.AI/ Money Calls)
O setor de veículos autônomos entrou em uma nova era e vive agora o que analistas do Bank of America chamam de seu “momento ChatGPT”. De acordo com relatório publicado pelo banco e obtido pelo Money Calls, a tecnologia de direção autônoma deixou de ser uma promessa distante para se tornar uma realidade concreta — com potencial de movimentar até US$ 1,2 trilhão até 2040, incluindo não apenas carros de passeio, mas também caminhões, transporte público, veículos agrícolas e soluções logísticas.
“As tecnologias de veículos autônomos (AVs) estão tendo seu momento ChatGPT e não são mais uma fantasia futurista”, diz o relatório.
Segundo o BofA, esses veículos já realizaram o equivalente a uma viagem da Terra até Vênus e de volta, transportando passageiros em cerca de 1,3 milhão de corridas pagas por mês, e com até 92% menos acidentes por milha em comparação aos veículos conduzidos por humanos.
O que impulsiona essa revolução, segundo os analistas, são os recentes avanços em inteligência artificial e poder computacional, além da queda acentuada nos custos de sensores. “Os principais ‘motores’ são os avanços em IA e computação, assim como a redução nos custos de sensores, que permitem uma implantação comercial mais rápida”, afirma o documento.
O relatório destaca que já existem mais de 200 projetos de veículos autônomos em operação ao redor do mundo. Atualmente, é possível utilizar um robotáxi em sete cidades — com previsão de que mais 20 cidades recebam esse tipo de serviço em breve. Só o mercado de carros autônomos, sem contar outras categorias, deve atingir US$ 700 bilhões até 2040, um crescimento de nove vezes em relação a 2024.
Contudo, ao incluir setores como transporte de cargas, logística, ônibus, agricultura e caminhões, o potencial de mercado se aproxima do impressionante valor de US$ 1,2 trilhão. “Qualquer coisa que se mova pode se tornar autônoma”, aponta o Bank of America.
Um dos principais fatores que aceleraram esse progresso é o desenvolvimento da chamada IA incorporada — ou seja, modelos de inteligência artificial integrados aos sistemas de direção que conseguem interpretar o ambiente em tempo real e tomar decisões de forma autônoma. “Modelos de AV de ponta a ponta oferecem aos veículos inteligência incorporada para entender o que está à frente e agir em tempo real”, descreve o banco. Isso representa uma ruptura com os métodos anteriores baseados em regras fixas e mapeamento.
Além disso, novas ferramentas como dados sintéticos e simulações digitais estão permitindo que o treinamento desses sistemas ocorra fora das ruas, reduzindo os riscos e os custos de testes. “A simulação e os dados sintéticos podem acelerar os testes, evitando a dependência exclusiva de testes em vias reais”, diz o texto.
Outro avanço importante vem da multimodalidade. Sistemas que combinam texto, imagens e vídeos conseguem interpretar melhor as situações de tráfego e podem até mesmo interagir com passageiros ou operadores. “Essa combinação permite que os operadores instruam os modelos a controlar/comunicar-se com o carro ou compreender as decisões tomadas em tempo real”, explica o relatório.
A geopolítica dos veículos autônomos
A ascensão dos veículos autônomos também ganhou contornos geopolíticos. De acordo com o Bank of America, uma verdadeira “corrida automobilística” está em andamento entre Estados Unidos e China. Enquanto os EUA lideram em número de lançamentos comerciais, os chineses estão acelerando com mais testes e uma previsão de que o dobro de robotáxis circule no país asiático na próxima década, em comparação com os americanos.
“Está em andamento uma corrida para formar parcerias, desenvolver tecnologias e garantir cadeias de suprimentos”, afirma o BofA. “Isso está alimentando uma ‘guerra da mobilidade’ entre EUA e China, acelerando a penetração da tecnologia e o surgimento de novas soluções.”
Além do impacto econômico e tecnológico, os veículos autônomos também podem responder a uma crise demográfica iminente no setor de transporte. A escassez de motoristas de caminhão no mundo pode dobrar até 2028, e em países como o Japão, a idade média dos taxistas já é de 60 anos. “Os AVs podem oferecer uma nova força de trabalho motorizada e uma significativa oportunidade econômica”, pontua o relatório. No Reino Unido, por exemplo, estima-se que a categoria de taxistas londrinos possa desaparecer por completo até 2045.
Os efeitos positivos vão além: com a popularização dos AVs sob demanda, o custo por milha pode cair em até 52% nos serviços de táxi e caronas compartilhadas. Isso ainda pode liberar grandes áreas urbanas hoje ocupadas por estacionamentos, reduzir o congestionamento e até antecipar o chamado “pico do carro” — o momento em que o número de veículos próprios deixa de crescer — já em 2035.
Para os analistas do Bank of America, os avanços da IA generativa, como os vistos no ChatGPT, estão servindo de catalisador para transformar promessas em produtos. “Os progressos rápidos e as descobertas em modelos de IA generativa estão revelando capacidades emergentes que podem acelerar a condução autônoma”, afirmam.
O futuro da mobilidade, portanto, não será apenas elétrico — será também inteligente e autônomo. E o impulso decisivo pode ter vindo da mesma tecnologia que revolucionou o mundo das conversas: a inteligência artificial generativa.

Assine nossa Newsletter
As notícias mais relevantes do mercado direto no seu e-mail.