Ouro renova máximas e vive “efeito estilingue”

Metal supera a marca dos US$ 3.000 impulsionado por incertezas geopolíticas, inflação e dólar fraco, mas pode passar por ajustes de curto prazo
Last Updated: março 19, 2025By Tags:
Ouro
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(Imagem: LeonardoAI/ Money Calls)

O ouro (GOLD) alcançou um marco histórico ao ultrapassar os US$3.000/onça em negociações intradiárias recentes, impulsionado por uma combinação de incertezas geopolíticas, inflação crescente, taxas de juros mais baixas e o enfraquecimento do dólar americano. Segundo Taylor Burnette, analista do World Gold Council, “o verdadeiro significado desse movimento está nas tendências econômicas mais amplas que estão impulsionando sua alta”, mostra um relatório divulgado nesta terça-feira (18) e obtido pelo Money Calls. Embora o metal precioso possa enfrentar alguma consolidação devido à velocidade da escalada, os fundamentos permanecem sólidos, sugerindo potencial para novas altas.

A trajetória do ouro em 2024 tem sido impressionante, com o metal registrando mais de 40 máximas históricas apenas este ano. O aumento de US$2.500/onça para US$3.000/onça ocorreu em apenas 210 dias, destacando o forte momento de preço. Para comparação, em média, o ouro levou cerca de 1.700 dias para avançar em incrementos de US$500/onça em ciclos anteriores. Esse ritmo acelerado reforça a dinâmica de alta observada nos últimos dois anos.

Ouro desafiou as tendências históricas, atingindo US$ 3.000 em tempo recorde

Gráfico 1

(Cada linha vertical significa a data em que cada nível incremental inicial de $ 500 foi violado, começando com $ 500 (extrema esquerda) e a última linha (extrema direita) representando $ 2.500
Fonte: Bloomberg, World Gold Council)

Do ponto de vista técnico, o recente rali empurrou o preço do ouro três desvios-padrão acima de sua média móvel de 200 dias (200DMA), um nível extremo visto anteriormente durante eventos significativos, como a pandemia de COVID-19 em 2020 e quando o ouro cruzou US$2.500/onça. Como observa Burnette, “movimentos tão rápidos geralmente são seguidos por períodos de consolidação antes que o mercado retome sua tendência de alta.”

Efeito “estilingue”

Embora o ouro tenha permanecido acima de múltiplos de US$500/onça por curtos períodos antes de recuar, há sinais de que o atual nível pode ser sustentado. Se o preço se mantiver acima de US$3.000/onça nas próximas semanas, isso pode desencadear compras adicionais de contratos derivativos, criando um efeito de “estilingue”. No entanto, esse cenário também pode motivar a realização de lucros de curto prazo.

Os fundamentos econômicos continuam sendo o principal suporte para o ouro. A incerteza geopolítica e geoeconômica, combinada com a inflação crescente e taxas de juros mais baixas, favorece a demanda por investimentos no metal. “Mesmo que a força do preço crie desafios para a demanda de joias e aumente a reciclagem, a demanda de investimento deve continuar robusta,” explica Burnette.

Historicamente, o ouro aumentou quase seis vezes desde dezembro de 2005, quando alcançou US$500/onça pela primeira vez, representando um retorno anualizado de 9,7%. Em comparação, o índice S&P 500 teve um crescimento anualizado de 8,2% no mesmo período. Essa performance destaca o papel do ouro como uma reserva de valor confiável em meio a incertezas econômicas.

Apesar do otimismo, especialistas alertam para a possibilidade de volatilidade de curto prazo. “Até mesmo os ralis mais fortes precisam ‘respirar’,” observa Burnette. A velocidade do recente aumento pode levar a ajustes temporários, mas os fundamentos macroeconômicos devem continuar sustentando o preço no médio e longo prazo.

Ativo de proteção

Outro fator importante é o papel do ouro como ativo de proteção contra riscos sistêmicos. Com tensões geopolíticas persistentes e preocupações sobre a estabilidade econômica global, muitos investidores estão buscando segurança no metal precioso. Isso é evidenciado pelo aumento constante na alocação de ouro em portfólios institucionais.

Os contratos de opções também desempenham um papel relevante no comportamento do preço. Estima-se que haja cerca de US$8 bilhões em contratos de opções de ETFs de ouro que expiram em 21 de março, além de US$16 bilhões em opções sobre futuros até 26 de março. Esses vencimentos podem influenciar o preço à medida que os investidores ajustam suas posições.

No contexto mais amplo, a análise do World Gold Council sugere que o ouro continuará sendo um ativo estratégico para investidores em 2024. Mesmo com eventuais quedas de curto prazo, o cenário macroeconômico global e a busca por proteção contra riscos devem manter o metal em alta. “O ouro não é apenas uma commodity; é um ativo financeiro crucial em tempos de incerteza,” conclui Burnette.

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